sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Aquele que chegou



Este é o homem

em cujo universo habito.


Dono de olhos celestes

A iluminar noites,

povoar dias e sonhos.


Este é o homem que surgiu em minha vida

Quando a escuridão já se fazia companheira,

Quando o silêncio se espalhara pelo mundo,

Quando a existência não era mais

que a lembrança da alegria perdida.


Este é o homem que amo,

que surgiu em minha vida

Vindo de um passado distante

Para fazer-se presente e futuro


Linha constante, no fiar de minha vida.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Vida nova, Leonor


Adeus te dou

longe, daqui onde estou.

e vejo São Pedro

te dizendo bonachão,

como à Irene:

-Entra, Leonor

pede licença não...


E entrarás.

serás então a menina

que um dia desposou

meu avô.

Ficará fora

a encarquilhada moldura

que te deforma.


- Entra, Leonor.

Tome assento

ao lado direito

do Criador.


E tu, Nora

sofrida e maltratada,

pela vida já tão antiga

serás então...fada!


Nora-Mãe-Avó-Bisavó

de todos nós,

e de alguns que já se foram...

- Entra, Leonor, tome assento!

Aqui também não estarás só...


Poema escrito para minha avó, Leonor, por ocasião de sua passagem, em setembro de 1984.

A foto é de minha mãe, com seus netos, bisnetos de Nora...alguns ainda nem nascidos quando ela se foi.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Zona Franca



Caboclo tem fome.

He´s hangry.

Cadê peixe-boi

pra comer com farinha?

Virou cowfish

na Terra Madrinha.


Caboclo tem sede.

Cadê a caninha

pra refrescar a goela?

Virou tabloid sugar

na Venezuela.


E agora, caboclo?

O jeito é speak english

pra sobreviver

pra poder comer

pra poder beber.


Caboclo tem som

Made in Japão.

Caboclo tem TV

com cores que não se vê

na casa de pau

no bucho vazio

no pé na lama

do Rio Negro.


Caboclo tem febre.

Caboclo tem sede.

Caboclo tem fome.


E agora?He hasn't home.



Esse poema nasceu em Manaus, no campus avançado, cercado de mata, esquilos, insetos todos...Nasceu de uma discussão sobre os contrastes de Manaus, que meus olhos cariocas viam...É um dos meus textos prediletos.....

domingo, 18 de novembro de 2007

Sendo


Ser ou não ser?
não é hoje mais a questão.
como ser, o que ser
é minha interrogação.


Ser Ana Terra ou ser Amélia
ser Julieta ou ser Medéia
ser fantasia, uma Camélia
ou ser real, um Ser de idéias?


Limpar xixi de noite ou dia
fazer comida, viver na pia
ou deixar livre o pensamento
ser poetiza, testar talento?


Ter filhos muitos, ser parideira
ou criar versos, talvez besteira
ver todo dia televisão
ou ter nos livros nova lição?


Ficar calada, ser paciente
ser "boa esposa", odebiente
ou tentar tudo, até gritar
para a vontade assegurar?


O que ser, como ser, pra que ser
é hoje em dia minha aflição
depois de Shakespeare conhecer
não quero mais a escuridão.
Esse poema foi escrito há mais de vinte anos...Valeu, Shakespeare! Nesse tempo, vivi "Entre a espada e a rosa", como no conto de Marina Colasanti, mas percebi que espada e rosa se completam e me fizeram mulher, a mulher que hoje SOU....
Não dá mais para trocar o título do poema!

domingo, 4 de novembro de 2007

Os bordados

Os bordados que aparecem em meu blog foram feitos pela Lourdinha, minha prima prendadíssima, de quem me orgulho muito. Achei tudo tão lindo que fiz questão de fotografar para dividir com outras pessoas.....

Mulher tecelã



Me redescubro na cepa das mulheres

que esperam e tecem.


Sensações , palavras

antecipam a felicidade.

Penélope sem Argos

Bem-amado por motores anunciado

neste fiar incansável.


Fio as alegrias acetinadas
de teu corpo adivinhado;

Fio a tua barba,

em branco e castanho;

Fio teus olhos neste fio azul

E tua boca no rosado mel.


Motores e fios te tecem

Através da janela aberta

Por onde a lua prateia

o abrir da porta

e o arremate do tecido.

A mulher tecelã

Me redescubro na cepa das mulheres

que esperam e tecem.



Sensações , palavras

antecipam a felicidade.

Penélope sem Argos

Bem-amado por motores anunciados

neste fiar inesgotável.



Fio as alegrias acetinadas

de eu corpo adivinhado,

Fio a tua barba, em branco e castanho,

Fio teus olhos, neste fio azul

E tua boca, no rosado mel.



Motores e fios te tecem

Através da janela aberta

Por onde a lua prateia

o abrir da porta

e o arremate do tecido.

sábado, 3 de novembro de 2007

Fiandeira






Fiava e calava. E foram noites lembradas ,bordadas em todas as cores,
que a fizeram continuar.
Bordava pontos amarelos, em azul, em vermelho, e branco... E todos eles se iluminavam, em rodas intermináveis, de rodar, rodar....E isso a fazia bordar mais, e isso iluminava ao redor, mais amarelo, mais vivo...
No entanto, ela fiava e calava....
Nada no bordado doirado lembrava as solidões, as mágoas, a tristeza. Bordava em azul claro, azul escuro, e sua noite em claro, dolorida, transformava-se em um canto ao alvorecer, que não tardava.
Na outra noite, porque eram sempre as noites, bordava um tom de rosa, salpicava de lilás, quem sabe amarelo...e o bordado ia ganhando as cores, que se despediram de sua vida.
De tanto bordar, seus olhos enfraqueceram e já não distinguiam as nuances. Os bordados, aos poucos, ficaram mais escuros, azul escuro, verde escuro, cinza escuro, marrom escuro...
E chegou o dia em que ela, por não poder mais distinguir as cores, tomou o fio negro e bordou, o sol, o céu, as flores, negros,como haviam sido todas as suas noites, sem que os olhos pudessem notar
.
O bordado acima foi feito por Maria de Lourdes Borges Gamba, borbadeira de mão cheia, que tem os olhos abertos para a beleza, para a poesia, para a vida e nos presenteia com imagens como essa. Obrigada, Lourdinha....

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Primeira postagem

Este blog foi criado para que eu publicasse alguns textos, que tenho guardado, e para que me anime a escrever outros, para publicar. De tanto estar junto à literatura vem a vontade de passar de estudiosa a produtora. Tomara que eu consiga!