
Fiava e calava. E foram noites lembradas ,bordadas em todas as cores,
que a fizeram continuar.
Bordava pontos amarelos, em azul, em vermelho, e branco... E todos eles se iluminavam, em rodas intermináveis, de rodar, rodar....E isso a fazia bordar mais, e isso iluminava ao redor, mais amarelo, mais vivo...
No entanto, ela fiava e calava....
Nada no bordado doirado lembrava as solidões, as mágoas, a tristeza. Bordava em azul claro, azul escuro, e sua noite em claro, dolorida, transformava-se em um canto ao alvorecer, que não tardava.
Na outra noite, porque eram sempre as noites, bordava um tom de rosa, salpicava de lilás, quem sabe amarelo...e o bordado ia ganhando as cores, que se despediram de sua vida.
De tanto bordar, seus olhos enfraqueceram e já não distinguiam as nuances. Os bordados, aos poucos, ficaram mais escuros, azul escuro, verde escuro, cinza escuro, marrom escuro...
E chegou o dia em que ela, por não poder mais distinguir as cores, tomou o fio negro e bordou, o sol, o céu, as flores, negros,como haviam sido todas as suas noites, sem que os olhos pudessem notar.
O bordado acima foi feito por Maria de Lourdes Borges Gamba, borbadeira de mão cheia, que tem os olhos abertos para a beleza, para a poesia, para a vida e nos presenteia com imagens como essa. Obrigada, Lourdinha....
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